Thursday, September 27, 2007

Quero ficar em Luanda!!!!!!!!!

Hoje é meu último dia em Angola. Amanhã parto no concorrido vôo da TAAG Luanda/Rio de Janeiro para o Brasil, sem previsão de volta, ainda, para esse país que me acolheu tão bem e me deu 334 dias de ótimas lembranças.

Fiz amigos, vivi intensamente.
Me aventurei nesse trânsito maluco e me deliciei nas fantásticas histórias desse povo e dessa cultura. Dancei a kizomba, comi bué de muamba e o calulu, comprei mambo no São Paulo e me assustei com os kandongueiros. Tive altos e baixos, confundi ginguba com gindungo, achei que o outdoor escrito "Registo" estava errado e aprendi o que é um bom choco.
Sobrevivi à falta de água, de luz, de internet e gerador. Vi a bomba dágua quebrar várias vezes, fiquei com lama nos pés, senti mosquitos comendo minha orelha a noite e consegui viver com o cabelo seco, empoeirado e sem tinta. Manicure já não me lembro o que é mais.
Com tudo isso e muito mais situações adversas, me senti em casa aqui desde o meu primeiro dia.

Angola, vou voltar!

Monday, September 10, 2007

Quase um ano se passou que eu vim para Luanda. Ao mesmo tempo sinto que tudo foi muito rápido, tambem sinto que os dias são cada vez mais lentos. Acho que por ter menos novidades para conhecer a cada dia e tudo estar se tornando parte de mim, do meu cotidiano.

Muita água se passou debaixo desses 11 meses na cidade mais desenvolvida de Angola. Injusta, desequilibrada, desordenada. A cidade dos revezes, do “tem mas não há”, dos absurdos. Cidade de quem dança por tudo e não tem comida no prato. Luanda de muitos carros e poucos postos para abastecer. Luanda que me encantou pelo seu povo e pela sua força. Uma cidade coração para os estrangeiros que chegam abertos a conhecer um novo mundo.

Os últimos dias tem sido um tanto quanto intensos. Novidades na empresa, mudanças na vida das pessoas que estão ao meu redor, o final da terceira temporada chegando.

A última das novidades aqui foi a Semana Brasileira, para comemorar a Independência do Brasil. Vivemos aqui o nosso Brazilian Day. Uma festa fantástica na Fortaleza de São Miguel com Jorge Aragão, Banda de Boca e Banda Maravilha. Uma das melhores de Angola. Todos os brasileiros que estavam na cidade e os angolanos mais saidinhos estavam nesta festa. Foram horas e mais horas de música e dança. Cerveja free para quem gosta (free não, bem cobradas nos USD 40,00 da entrada), churrasco, música, música e mais música.




Mas o que me emocionou mesmo, talvez por estar sozinha em casa, foi ver pela televisao o Brazilian Day em NY. Me emocionei de verdade ouvindo Asa de Águia e aquela música que sempre me mata quando escuto. Eu não sei o nome, sou péeessima. Duda Mendonça não poderia ter sido mais feliz na sua composição. Acho que é dele mesmo. É aquela que começa assim: “Ah que bom você chegou, bem vindo a Salvador, coração do Brasil...”. Quando cheguei em Salvador, minha primeira mudança radical, quando saí de São Paulo, foi com ela que fui recepcionada no aeroporto. Sabia que apesar de todos os riscos e todas as dificuldades que eu ia encontrar, estava no caminho certo. Mal imaginava o que ainda estava por vir na minha vida.

Voltando ao programa do plin plin... uma retrospectiva se passou na minha cabeça e voltei a sentir todas as sensações que me tomaram nos anos que passei desde que saí de São Paulo de vez, sabendo que tão cedo não voltaria. O cheiro do mar no meu primeiro apartamento na Barra. A expectativa do primeiro Natal longe dos meus pais, da primeira viagem de carro sozinha pelas praias paradisiacas do norte, a agonia das 7 mudanças de casa que tive que fazer sozinha, o medo de comprar o meu carrinho sozinha na mão de desconhecidos sem a ajuda de um homem. O desespero de chegar em casa e ter toda a comida roubada... ahh várias histórias que não caberiam em um dia de conversas sem paradas para o xixi. Pensei: o que estou fazendo da minha vida? Tudo isso vale a pena? E a resposta, definitivamente é SIM!

Tenho minha família de verdade em São Paulo que eu amo, e hoje consigo me expressar muito melhor com eles. Mais do que ninguém eles me apóiam e estão sempre do meu lado, mesmo longe, o que não diminui nosso amor e me faz mais forte a cada dia para continuar a buscar o que é melhor para mim.
Amigos graças a deus eu fiz em todos os cantos por onde passei, e muitos. Arrumei irmãos no Rio de Janeiro, cúmplices em Recife, comadres em Santa Catarina e Rondônia, parceiros de conversas de botequim em Salvador, mesmo que elas acontecessem num pôr-do-sol na praia.

Mais uma temporada de “Survivor Luanda” está terminando e logo as minhas férias chegam... que delícia. Poder ver todos, ou pelo menos uma parte, de todo mundo que eu amo.

O Brasil é minha casa. Angola é meu país. Pelo menos por enquanto.
Mesmo consciente do que posso estar perdendo pela distância, meu coração sempre vai ser verde e amarelo e a morada de todos aqueles que eu deixei.

É que eu sempre digo.. o melhor de poder estar aqui é sempre poder voltar!