Thursday, August 02, 2007

Tributo a Renato Russo

Desde que cheguei aqui nesta temporada e fui para o novo apartamento novo, nada funciona na sua normalidade. Mas isso não é um privilégio meu não, grande parte da cidade está passando por problemas de infraestrutura. Há dias estamos sem água da rua e de vez em quando ainda falta luz. Grande maioria das casas próximas dessa nossa região têm gerador e bomba d'água - enquanto a nossa tem também, tem mas não há.

Tudo é novinho. O gerador chegou de Portugal, embaladinho para presente, mas ainda não saiu do container do navio... ou seja, quanto falta luz na rua não tem luz em casa de jeito nenhum, só luz de vela quando se acha o fósforo na escuridão. Como estamos no Cacimbo, no inverno aqui, grande parte dos ar-condicionados da cidade estão desligados (isso durante a noite, porque durante o dia ainda é necessário o arzinho fresco), não com muita frequencia acaba a energia. No verão, os primeiros meses que eu passei aqui, chegou a faltar 5 vezes por dia. Hoje não chega há 2 por semana. Menos mal.

A bomba d'água também é novinha. Fica lá em cima do prédio. De tão novinha chamou a atenção que algum malandro roubou uma peça dela, uma certa molinha que bombeia a água. E cade essa molinha que não tem para comprar??!! Cadê o técnico que por 7 vezes (sem exagero) marcou para ir para o apartamento ver essas coisas e nunca apareceu?... a certa altura não atendia sequer nosso telefone, até que começamos a fazer um rodízio de números aqui na agência e ligar dos desconhecidos para ele. Mesmo assim nunca apareceu. Chamar outro? Chamamos, mas devia estar jogando cartas com o primeiro porque também não passou em casa.
O que temos feito todos esses dias é comprar água nas mãos dos meninos, água da rua. Eles sobem as escadas com aqueles baldões na cabeça e levam para um tonel de plástico preto que temos em nossa cozinha. Então, fervemos essa água e com ela tomamos banho. Tomamos banho e mais nada.

Cozinhar não cozinhamos nada em casa. Lavar roupa, levamos tudo para a agência. Escovar os dentes, só com água mineral. Xixi? Melhor pular essa parte. Quem sofre é a São, nossa organizadora de lares. Não preciso explicar detalhes. Essa fase de casa nova, de mudança, é sempre assim. Já é a segunda casa nova que entro e a segunda vez que passamos por isso desde que cheguei à cidade. Chega até a ser divertido. Compus com Freddy um conto "A revolta dos eletrodomésticos" e Renato Russo é nosso ídolo em casa... Ele compôs o nosso hino... "Se ontem faltou água, anteontem faltou luz..."

Viver como angolano não é fácil. Aprender a viver como angolano é um privilégio.

Eu estava achando que todo esse panorama era péssimo. Péssimo até conversar com as pessoas que trabalham com a gente, os angolanos mesmo. Enquanto a gente reclama de 24 dias sem água, eles não tem água encanada há meses. Luz? Na casa de Sambita, não me lembro da última vez que ela disse ter visto a lâmpada acesa.
Aqui a gente sente na pele o valor das coisas mais simples e tomar banho de canequinha deixa de ser uma tortura porque no fundo, a gente tem como comprar litros e litros de água por Kz500. A gente pode mandar trazer do Brasil Tylenol e comprar um Toblerone branco tamanho gigante no Free Shop para as horas de depressão.

Sempre converso com Pedro sobre o motivo de estarmos aqui. Sempre batemos cabeça tentando achar respostas para nossas indagações. Estar aqui por trabalho, é muito pouco. Pouco porque a questão é muito mais profunda. Poderíamos estar em agências em qualquer lugar do mundo. Mas porque aqui? Certamente estamos aqui para aprender, cabe a cada um de nós olhar para as coisas que vivemos no dia a dia e fazer a lição de casa.

1 comment:

Clederson said...

Tenho acompanhado seu blog desde que foi para Angola e fica claro que a Paty de hoje não é mesma Paty que conheci em sua festa de despedida em Salvador. Você além do profissional tem crescido dia a dia como pessoa. Parabéns Paty por saber VIVER essa oportunidade única que está tendo.
Bjs,